Comissão antirracista > igualdade racial

Meu nome é Nyala, tenho 37 anos e moro há 4 anos em São Paulo.
Meus pais sempre fizeram questão que eu e minha irmã priorizássemos os estudos. Meu pai se formou em Arquitetura na FAU (Faculdade de Arquitetura e Urbanismo), e após 2 anos morando no Canadá, segui o mesmo caminho da universidade, me formando em Publicidade. Fiz 2 anos da faculdade de Serviço Social também, na PUC-SP. Foi lá que se deu o meu processo de me entender como mulher negra. O Serviço Social me fez acordar de verdade e me enxergar como uma pessoa preta no mundo. Foi algo profundo.

Minha irmã e eu estudamos em colégio particular, com pessoas brancas. Nós duas éramos sempre as únicas pretas na sala, não tínhamos amigos pretos. Ainda assim, não me recordo de episódios explícitos de racismo quando pequena… minha mãe sempre foi uma leoa, acho que ela nos blindava.

Mas os olhares a gente sempre percebe.
Uma vez estava no supermercado com a minha esposa quando um segurança me abordou e disse que eu “não podia pedir lá”. Na hora me veio tanta coisa na cabeça, mas eu só consegui congelar de raiva, foi ela quem gritou.
Sempre tive medo de passar por essas situações. A gente nunca está preparado, mas elas acontecem.
Minha mãe sempre fez questão de ocupar os lugares, ela gosta de ir a bons restaurantes e sempre que eu me sentia incomodada com os olhares, ela dizia que estávamos pagando e que tínhamos o direito de estar ali. Hoje eu me sinto melhor em relação a isso.

Trabalhei um tempo na empresa do meu pai e quando quis ter outras experiências, nenhuma das empresas para as quais eu mandava currículo me chamou. Cargos para os quais eu sabia que estava apta… mesmo assim não me chamavam.

Aqui na Speed, além da Comissão de Igualdade temos o treinamento contra o racismo. O Letramento Racial demanda tempo, muito diálogo e precisa ser algo contínuo. Achei a iniciativa ótima! Não sei se realmente vai mudar as pessoas. Mas eu quero continuar sonhando para continuar vivendo, ter esperança.